Um monte de reuniões desde às 9h, trânsito, pânico causado por uma paralisação momentânea de policiais militares. A idéia era simplesmente vir para casa, rir um pouco com a novela das 19h, checar umas mensagens, ler o módulo da pós, ouvir um sonzinho até dormir. Entre as matérias do noticiário local, uma nota quebrou meu planejamento e me peguei sentindo uma dor alheia. A informação que uma mulher e sua filha haviam sido seqüestradas no meio do trânsito caótico do centro da cidade, local onde, aliás, estive durante metade do dia.
Os homens levaram-nas pela BR 324, principal saída de Salvador. Abandonaram o bebê de pouco mais de um ano no carro e seguiram com sua mãe que portava documentos, cartões e afins. Fui zapeando nos intervalos, como de costume, para ver os outros noticiários. O segundo canal de TV já dava conta de noticiar que o pai fora localizado e foi encontrar a criança que dormia no banco de trás do carro. Num terceiro noticiário, encontraram o corpo de uma mulher. Voltei ao primeiro jornal e à sua confirmação cortante.
Não saberia explicar o porquê do choque. Acho até que não foi tanto o ato, quero dizer, não que banalize a violência, mas fiquei pensando nessa criança e seus últimos momentos com a mãe. Nos argumentos que ela deve ter usado a fim de proteger a filha, convencer seus assassinos a deixarem a criança para trás, os seus últimos pensamentos. Por um instante me senti sufocada numa angústia sem tamanho, mas, certamente, menor que a dor dessa família essa noite.
De todos os meus pensamentos um é recorrente: Por quê matar? A noite perdeu a graça e ganhou um não sei quê esquisito e triste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário