Mais um final de outubro chegando e, novamente, as tais festas de halloween. Chega me dá gastura!
Até quando? Será mesmo que vamos continuar deixando nossas crianças aprenderem que o legal é sair fantasiado de bruxa, frankstein, vampiro, ou qualquer outra coisa sangrenta e feia, nascidos de uma história bizarra? Por que temos que assistir morrer as festas populares e seus personagens ricos, construídos de enredos curiosos tão nossos, cantados nas rodas de viola e divulgados de geração em geração?
O vinte e dois de agosto vai ficando cada vez mais presente somente nos calendários. Ah, se bem pudessem conhecer! Nos preparávamos para a festa desde o começo do ano e era bom ir organizando a fantasia, pensar nas comidas típicas, nos trajes, ensaiar as danças.
Cada criança que vejo se movimento para as festas de 31 de outubro, questiono: “você conhece nosso folclore?”. A surpresa é que a maioria diz que não. Não as culpo. Não têm sequer a oportunidade de conhecer outras coisas. Mais um enlatado empurrado goela abaixo na vida dos pequenos, legitimado pela escola e família.
Fiquem com suas bruxas, minha Iara é muito mais bonita e, definitivamente mais encantadora; fiquem com seu vampiro, seu frankstein! A história do lobisomem é mais instigante! Ainda tenho o boto-cor-de-rosa, o saci peralta. E nem falei das minhas festas de cores muito mais vibrantes e alegres, em vez do seu preto, laranja e roxo!
E, que tal minha rica culinária típica no lugar dos seus "doces ou travessuras"? Olha, não é querendo me gabar não, mas a minha festa tem muito mais nuances, muito mais alegria. Muito mais ziriguidum!
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Dé, valeu! Descobri que gosto mais que pensava.
Senhoras e senhores, com vocês, Rita Ribeiro!
No conforto dos teus braços
Oito horas de vôo num concorde,
Cinco dias num barco mar adentro,
Sete noites dormindo ao relento,
Sete ciganas lendo a minha sorte,
Quatro dias, em pé, no trem
Da morte,
Vinte léguas montado num jumento,
Sete mil flores no meu pensamento,
E eu trilhando os últimos espaços...
Pra ficar no conforto dos teus braços,
Qualquer coisa no mundo eu enfrento!
Valentia de pai ou de irmão,
Concorrência com o astro do momento,
Temporal, tempestade, chuva e vento,
Holocausto, hecatombe e tufão,
Desemprego, palestra e sermão,
Tititi, coqueluche, casamento,
Pé de ponte, mansão, apartamento,
Paparazzi, sucessos e fracassos...
Pra ficar no conforto dos teus braços,
Qualquer coisa no mundo eu enfrento!
Ladroíce, mutreta, malandragem,
Álcool, droga, barato, passamento,
Amnésia, larica, esquecimento,
Roubalheira e má politicagem,
Cabaré, palacete, sacanagem,
Fome, greve, motim,
Acampamento, confusão, batalhão, fuzilamento,
Reclusão, solidão, sonho,
Aos pedaços...
Pra ficar no conforto dos teus braços,
Qualquer coisa no mundo eu enfrento!
João Linhares
domingo, 25 de outubro de 2009
Eu, o ET
Roubalheira, desrespeito, falta de amor ao próximo, falta de cidadania, descuido generalizado. Já teve a sensação de estar tudo tão errado e - as pessoas achando tão certo - que a impressão é que você quem está fora de órbita, desconectado ou ultrapassado? Diria mano Caê: “alguma coisa está fora da ordem...!”
domingo, 18 de outubro de 2009
Faz-me rir
Com todos os ônibus queimados em Salvador e módulos policiais metralhados, com todo helicóptero abatido, policiais e civis mortos (quase diariamente) no Rio de Janeiro, com toda pane no sistema metroviário em São Paulo, com a dengue e meningite que voltam a aterrorizar norte e nordeste do país. Com todos os professores ameaçados em escolas públicas e particulares Brasil a fora. Com a educação cada vez mais desqualificada, com o trânsito caótico de cada dia, com os meninos aspirados pelo consumo fácil e rápido do crack no Pelourinho, Viaduto do Chá e Cracolândia (e quaisquer ruas e vielas do país!). Com tudo o que não nos chega via rádio, jornal impresso, web e televisão! Vamos sim, continuar a celebrar nossa conquista: que venha a copa! Que venham as olimpíadas!
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
O joelho gordo de Carol
Sábado, dia 10 de outubro. Um dia inteiro de aulas na pós bem no meio de um feriadão! O que acreditar na educação não faz, hein?!
No break após o almoço e antes da segunda etapa do dia, paramos para, digamos, filosofar um pouco. Meninos e meninas falando a respeito de seus corpos, seus medos e dúvidas. Que exercício delicioso para nós, mestres em potencial. Fomos desde trajes especiais para uma noite especial, até mitos e verdades ligados a tamanhos e funcionalidades.
Eis que, é claro, enveredamos pelas insatisfações femininas em relação a nossos próprios corpos: seios pequenos, bunda grande, testa enorme, gorda, magra. Milagres da cirurgia plástica. De repente, lançamos um bolão. Os lugares que tínhamos vontade de corrigir, por meio de cirurgia plástica. Daí uma louca grita do canto da sala: “eu sei que vocês não acreditam e vão dar risada, mas eu queria fazer cirurgia no meu joelho. Meu joelho é gordo!”. Ah, Carol! Depois do almoço?! Nem preciso dizer o que aconteceu, né?! Faz até mal rir tanto depois de comer. Prometi a ela um texto só para não perder a frase.
Depois, pensando no que sustentar o argumento depois da piada, analisei umas figuras que mexe e vira estão na tevê e cada vez mais desfigurados! Vá lá, cada um faz com seu dinheiro, seu tempo e saúde o que melhor convier, mas cirurgia é cirurgia! É como Natália colocou: se estamos satisfeitas com nossos corpos, ótimo!
Saindo da minha sala de aulas, lembrei de algumas figuras que se gabam pelas tantas cirurgias feitas. Na realidade se tornaram aberrações. Tem uma garota, que não vou lembrar o nome, que já passou por tanto procedimento desnecessário, com implantes de próteses de silicone nos seios que começou afetar a coluna. E, pasmem, ela só quer se manter no livro dos recordes! Já fez boca, algo mais no rosto, bumbum, contava ela num programa exibido no início do ano.
Olha, eu sei que não estou na melhor das formas, mas ainda assim pra vidinha que levo, sedentária, notívaga, adoro comer e adoro mais ainda a minha cama, estou bem. Não sei se pensaria em fazer algo na máquina 3.2 aqui. Pensem numa pessoa frouxa para essas coisas?
E, no final das contas, vai cair mesmo, é a ordem natural da coisas, já provara Newton, como não?!
No break após o almoço e antes da segunda etapa do dia, paramos para, digamos, filosofar um pouco. Meninos e meninas falando a respeito de seus corpos, seus medos e dúvidas. Que exercício delicioso para nós, mestres em potencial. Fomos desde trajes especiais para uma noite especial, até mitos e verdades ligados a tamanhos e funcionalidades.
Eis que, é claro, enveredamos pelas insatisfações femininas em relação a nossos próprios corpos: seios pequenos, bunda grande, testa enorme, gorda, magra. Milagres da cirurgia plástica. De repente, lançamos um bolão. Os lugares que tínhamos vontade de corrigir, por meio de cirurgia plástica. Daí uma louca grita do canto da sala: “eu sei que vocês não acreditam e vão dar risada, mas eu queria fazer cirurgia no meu joelho. Meu joelho é gordo!”. Ah, Carol! Depois do almoço?! Nem preciso dizer o que aconteceu, né?! Faz até mal rir tanto depois de comer. Prometi a ela um texto só para não perder a frase.
Depois, pensando no que sustentar o argumento depois da piada, analisei umas figuras que mexe e vira estão na tevê e cada vez mais desfigurados! Vá lá, cada um faz com seu dinheiro, seu tempo e saúde o que melhor convier, mas cirurgia é cirurgia! É como Natália colocou: se estamos satisfeitas com nossos corpos, ótimo!
Saindo da minha sala de aulas, lembrei de algumas figuras que se gabam pelas tantas cirurgias feitas. Na realidade se tornaram aberrações. Tem uma garota, que não vou lembrar o nome, que já passou por tanto procedimento desnecessário, com implantes de próteses de silicone nos seios que começou afetar a coluna. E, pasmem, ela só quer se manter no livro dos recordes! Já fez boca, algo mais no rosto, bumbum, contava ela num programa exibido no início do ano.
Olha, eu sei que não estou na melhor das formas, mas ainda assim pra vidinha que levo, sedentária, notívaga, adoro comer e adoro mais ainda a minha cama, estou bem. Não sei se pensaria em fazer algo na máquina 3.2 aqui. Pensem numa pessoa frouxa para essas coisas?
E, no final das contas, vai cair mesmo, é a ordem natural da coisas, já provara Newton, como não?!
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Baby Sangalo já boicota Enem
Daria uma boa chamada, acho. Cada vez que leio uma nota sobre o filho de Ivete Sangalo – também conhecido como Marcelo – ou recordo o tempo que o assunto mereceu destaque na versão online de A Tarde, lembro do pito que levei de minha editora, nesse mesmo jornal. A essas alturas, ano passado, era repórter freelancer de A Tarde. Estava eu, cumprindo a pressão da minha pauta, escrevendo sobre um rapaz assassinado num bairro do Subúrbio, supostamente por policiais, quando alguém gritou que eu precisava checar uma informação mais urgente: Ivete Sangalo divulgou no site, no blog, sei lá, que estava grávida!
Na verdade, do jeito que o colega chegou falando, achei que fosse somente um comentário. Lembro que voltei a cabeça pra ele e disse: “sim, mas e daí?”. E ele: “e daí que isso é notícia!”. Eu, jornalista, não tiete: “ah, tá. Isso muda mesmo muita coisa! Inclusive tenho uma mãe aqui no telefone acusando um policial de ter matado o filho dela. Quer que eu diga a ela que Ivete tá grávida?”.
Daí já viu a confusão em que me meti, né? Veio a editora cobrar a informação, eu ainda atendendo aquela senhora sem ver muito sentido na proporção do alvoroço que minha negativa tomou. Até que outra colega, acostumada a lidar com as celebridades, assumiu a matéria. Aquilo virou o comentário do resto do dia mas eu, sinceramente, não esquentei. Recusei uma ordem que me agredia como pessoa, como cidadã.
É preciso ressaltar que não é que não goste de Ivete. Tampouco morro de amores! Até a considero uma artista excepcional: criativa, completa e carismática. Ela é desses tipos mão de Midas, a meu ver. É a exposição que me incomoda. Aliás, a procura de anônimos por essa exposição.
Me faz lembrar outro episódio absurdamente marcante na história da mídia brasileira: Ivete se tornaria quase uma outra Xuxa parindo Sacha. Guardadas as proporções, é lógico! Muito possivelmente o fato de ser uma nordestina aparecendo num esquema midiático tradicionalmente mantido no eixo centro sul, diminui a possibilidade de exposição no mesmo nível. Naquele ano, paralelo ao nascimento da filha da “rainha dos baixinhos”, conhecida também por Sacha, o sistema de telefonia nacional era vendido a preço de bananas, segundo especialistas. Apesar disso, o principal telejornal da noite, o Jornal Nacional, destacou o parto da apresentadora, bem como a estrutura que ela montou no hospital para abrigar amigos e parentes durante o período que ficaria internada. Pelo sim, pelo não, o fato é que hoje estamos entregues a uma prestação caótica de serviços telefônicos, sem fiscalização eficaz e cobranças absurdas em taxas e assinaturas.
O páreo para o bebê Sangalo foram as provas vazadas do Enem. No ano em que o exame passaria a ser adotado também como critério em algumas instituições de ensino superior e milhares de estudantes se preparavam para realização das provas, viajando para outras cidades inclusive, as questões do exame vão parar nos jornais. E é bom destacar que mais uma jornalista se sentiu incomodada com algum tipo de sujeira! Agora, quase vinte universidades se veem obrigadas a alterar o calendário de seus processos seletivos em todo país.
Uma das empresas participantes do consórcio responsável pela organização do Enem é baiana. A Consultec simplesmente se reservou ao direito de permanecer calada. A maioria dos jornais sequer pôde citar seu nome. Mas nem precisou. Ninguém nem lembrava que a CONSULTEC (gravem bem) tava no esquema porque baby Sangalo deu o ar da graça! Apareceram até falsas fotos do guri. Outro deslize de alguns colegas. A gente aprende, logo nas primeiras aulas, que checar a informação é vital no jornalismo. Mas, se até minha editora esqueceu isso, imagina! Nem vou citar o fato de alguns estudantes terem permanecido de plantão na entrada do hospital em vez de estarem preocupados com a fraude das provas.
Vale a ressalva, pelo amor de Jah: não tenho nada contra ou a favor de Ivete Sangalo, muito menos a seu filho. Aliás, desejo muita saúde e sorte a Marcelo, como a qualquer outro guri. Entretanto, infelizmente, é esse o mundinho que o aguarda. Que aguarda a todos nós. O mundinho em que as prioridades estão/são trocadas o tempo todo. Seja pela falta de humanidade, seja pela falta de cidadania, pelo lobby, pela politicagem descarada (escancarada e estampada), ou falta de ética, ou falta de respeito a privacidade, ou necessidade de (super) exposição, ou o espetáculo midiático de consumo, ou a corrida irracional da audiência, ou o quanto pior melhor, ou, ou...
Na verdade, do jeito que o colega chegou falando, achei que fosse somente um comentário. Lembro que voltei a cabeça pra ele e disse: “sim, mas e daí?”. E ele: “e daí que isso é notícia!”. Eu, jornalista, não tiete: “ah, tá. Isso muda mesmo muita coisa! Inclusive tenho uma mãe aqui no telefone acusando um policial de ter matado o filho dela. Quer que eu diga a ela que Ivete tá grávida?”.
Daí já viu a confusão em que me meti, né? Veio a editora cobrar a informação, eu ainda atendendo aquela senhora sem ver muito sentido na proporção do alvoroço que minha negativa tomou. Até que outra colega, acostumada a lidar com as celebridades, assumiu a matéria. Aquilo virou o comentário do resto do dia mas eu, sinceramente, não esquentei. Recusei uma ordem que me agredia como pessoa, como cidadã.
É preciso ressaltar que não é que não goste de Ivete. Tampouco morro de amores! Até a considero uma artista excepcional: criativa, completa e carismática. Ela é desses tipos mão de Midas, a meu ver. É a exposição que me incomoda. Aliás, a procura de anônimos por essa exposição.
Me faz lembrar outro episódio absurdamente marcante na história da mídia brasileira: Ivete se tornaria quase uma outra Xuxa parindo Sacha. Guardadas as proporções, é lógico! Muito possivelmente o fato de ser uma nordestina aparecendo num esquema midiático tradicionalmente mantido no eixo centro sul, diminui a possibilidade de exposição no mesmo nível. Naquele ano, paralelo ao nascimento da filha da “rainha dos baixinhos”, conhecida também por Sacha, o sistema de telefonia nacional era vendido a preço de bananas, segundo especialistas. Apesar disso, o principal telejornal da noite, o Jornal Nacional, destacou o parto da apresentadora, bem como a estrutura que ela montou no hospital para abrigar amigos e parentes durante o período que ficaria internada. Pelo sim, pelo não, o fato é que hoje estamos entregues a uma prestação caótica de serviços telefônicos, sem fiscalização eficaz e cobranças absurdas em taxas e assinaturas.
O páreo para o bebê Sangalo foram as provas vazadas do Enem. No ano em que o exame passaria a ser adotado também como critério em algumas instituições de ensino superior e milhares de estudantes se preparavam para realização das provas, viajando para outras cidades inclusive, as questões do exame vão parar nos jornais. E é bom destacar que mais uma jornalista se sentiu incomodada com algum tipo de sujeira! Agora, quase vinte universidades se veem obrigadas a alterar o calendário de seus processos seletivos em todo país.
Uma das empresas participantes do consórcio responsável pela organização do Enem é baiana. A Consultec simplesmente se reservou ao direito de permanecer calada. A maioria dos jornais sequer pôde citar seu nome. Mas nem precisou. Ninguém nem lembrava que a CONSULTEC (gravem bem) tava no esquema porque baby Sangalo deu o ar da graça! Apareceram até falsas fotos do guri. Outro deslize de alguns colegas. A gente aprende, logo nas primeiras aulas, que checar a informação é vital no jornalismo. Mas, se até minha editora esqueceu isso, imagina! Nem vou citar o fato de alguns estudantes terem permanecido de plantão na entrada do hospital em vez de estarem preocupados com a fraude das provas.
Vale a ressalva, pelo amor de Jah: não tenho nada contra ou a favor de Ivete Sangalo, muito menos a seu filho. Aliás, desejo muita saúde e sorte a Marcelo, como a qualquer outro guri. Entretanto, infelizmente, é esse o mundinho que o aguarda. Que aguarda a todos nós. O mundinho em que as prioridades estão/são trocadas o tempo todo. Seja pela falta de humanidade, seja pela falta de cidadania, pelo lobby, pela politicagem descarada (escancarada e estampada), ou falta de ética, ou falta de respeito a privacidade, ou necessidade de (super) exposição, ou o espetáculo midiático de consumo, ou a corrida irracional da audiência, ou o quanto pior melhor, ou, ou...
domingo, 4 de outubro de 2009
La Negra II
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el oído que en todo su ancho
graba noche y día grillos y canarios
martirios, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
Violeta Parra
me dio dos luceros que cuando los abro
perfecto distingo lo negro del blanco
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el oído que en todo su ancho
graba noche y día grillos y canarios
martirios, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él, las palabras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano
y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos, montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano
cuando miro el bueno tan lejos del malo
cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida, gracias a la vida
Violeta Parra
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