Ainda lembro aquela tarde sentadas na varandinha. Pró Geninha e Guida me diziam: “aproveite tudo porque ser negro, hoje, é mercadológico!!”. Lá se vão mais de quatro anos. Faz tempo, mas a constatação é bastante atual. Não saberia dizer ao certo qual era a discussão. Mas, com certeza me referia ao fato de ter assumido, por vez, meus traços étnicos. Embora não fosse uma militante fervorosa (e ainda não o seja), percebi que devia ir muito além que trançar meus cabelos à jamaicana ou, como hoje, aplicar os dread locks, como Marley.
Também falava de minhas intenções para o mestrado. E, de novo como Marley, queria abordar minhas raízes, trabalhar minha história. Me utilizaria então da arma que conheço melhor e a qual considero inegavelmente a mais poderosa de todas: o conhecimento. Queria mostrar a força de pessoas como Yêdamaria, amiga, artista plástica, reconhecida no exterior (aliás, mais lá que cá), negra, do interior da Bahia. No início da pesquisa para o projeto, o primeiro grande obstáculo: não existe bibliografia específica. É como se nós negros, nessa que dizem ser a maior cidade negra fora de África, fizéssemos muito pouco, nada que merecesse estar fora das páginas de polícia ou situação de mendicância.
Minha indagação não era onde ou em quê pesquisar somente. Não teria problemas em “construir o caminho”, mas me perguntava por que éramos constantemente ignorados. E aí lembro de ter visto um outdoor. Chamava para a caminhada do dia 20, com saída, lógico, da Liberdade. Pois é... E lá vamos para mais um vinte de novembro. Pretos e pretas nas ruas reivindicando no grito! Já estive. Mas as figuras que fazem da marcha um palanque eleitoral me tiram do sério! E como ano que vem teremos eleições municipais, imagina o que não vai ser.
Há duas semanas estou envolvida num projeto de comunicação para o dia 20, em Camaçari, cidade da região metropolitana. Nas discussões um tema é recorrente: a data. Explico: por que somente dia 20 de novembro saímos em protesto? Nossas crianças negras, no ensino fundamental, precisaram de uma mãozinha da justiça pra terem sua história incluída na grade do planejamento de aulas. A briga é boa e os resultados ainda são aguardados. E meus questionamentos não paravam por aí. Por que com a ascensão da política de cotas nas universidades, todo mundo resolveu ser negro? Por que na alta estação, quando a cidade fica lotada de turistas, se incentiva uma tendência aos chamados penteados afro como mera fantasia? Por que esse é um mês no qual todo mundo decide discutir em seminários, em palestras e arrisca aplicar receitas de bolo ao nosso cotidiano? Por que as tais secretarias ou mesmo coordenações especiais de políticas e promoção de igualdade racial não engatam?
Eu quero é que durante o ano inteiro alguém me explique, aliás faça melhor, quero que alguém solucione essa condição louca que é um trabalhador negro receber o equivalente a metade do salário de um trabalhador branco,ocupando exatamente a mesma função, com as mesmas qualificações. Quero que alguém explique por que nos noticiários de Tv as (raríssimas) apresentadoras não usam tranças ou dread locks? Seus cabelinhos são tão lisinhos alguns com luzes loiras! Me salve Rita Batista com seu estilo black power na Tv Aratu. Alguém pode me dizer que zorra de 1% é esse a que ganhamos o direito para aparecer nos anúncios e propagandas? No finalzinho da peça? Dando tchau? Sacudindo ou sempre mudos? Não quero pena, esmola. Sequer gosto da palavra reparação!
No meu caso específico não precisei diretamente da ajuda do governo. Nunca estudei em escola pública, minha graduação e especialização também foram em instituições particulares. Talvez aconteça agora com o mestrado. Sou a famosa exceção à regra. Entretanto, já bem próximo, minhas irmãs seguiram o que se vê: entraram num colégio público no segundo ano do segundo grau. Tinham as aulas iniciadas às 7h e antes das 10h já estavam em casa. Isso entristecia bastante minha mãe que nunca mediu esforços para nos proporcionar conhecimento. Era questão de honra na cabeça dela e, pelos incentivos, ainda se mantém.
E numa dessas palestras, ouvi uma vereadora, bastante requisitada no assunto, dizer lá pelas tantas que a escola pública hoje é feita para pobres. Em boa parte dessas instituições o descaso é pulsante e julga-se que o pobre não merece nada de qualidade, afinal, não vai sair dali mesmo. Não era a visão dela, mas explicitava como o sistema funcionava. Que engano! Somos tão capazes quanto afinal, somos nós que matamos um leão por dia pra sobreviver e ressaltar nossa habilidade... E tem sido assim desde o dia 14, (o dia do e agora) quando fomos empurrados às ruas. Ao menos paramos de comemorar o dia anterior, como se aquela assinatura fosse um favor!
Também falava de minhas intenções para o mestrado. E, de novo como Marley, queria abordar minhas raízes, trabalhar minha história. Me utilizaria então da arma que conheço melhor e a qual considero inegavelmente a mais poderosa de todas: o conhecimento. Queria mostrar a força de pessoas como Yêdamaria, amiga, artista plástica, reconhecida no exterior (aliás, mais lá que cá), negra, do interior da Bahia. No início da pesquisa para o projeto, o primeiro grande obstáculo: não existe bibliografia específica. É como se nós negros, nessa que dizem ser a maior cidade negra fora de África, fizéssemos muito pouco, nada que merecesse estar fora das páginas de polícia ou situação de mendicância.
Minha indagação não era onde ou em quê pesquisar somente. Não teria problemas em “construir o caminho”, mas me perguntava por que éramos constantemente ignorados. E aí lembro de ter visto um outdoor. Chamava para a caminhada do dia 20, com saída, lógico, da Liberdade. Pois é... E lá vamos para mais um vinte de novembro. Pretos e pretas nas ruas reivindicando no grito! Já estive. Mas as figuras que fazem da marcha um palanque eleitoral me tiram do sério! E como ano que vem teremos eleições municipais, imagina o que não vai ser.
Há duas semanas estou envolvida num projeto de comunicação para o dia 20, em Camaçari, cidade da região metropolitana. Nas discussões um tema é recorrente: a data. Explico: por que somente dia 20 de novembro saímos em protesto? Nossas crianças negras, no ensino fundamental, precisaram de uma mãozinha da justiça pra terem sua história incluída na grade do planejamento de aulas. A briga é boa e os resultados ainda são aguardados. E meus questionamentos não paravam por aí. Por que com a ascensão da política de cotas nas universidades, todo mundo resolveu ser negro? Por que na alta estação, quando a cidade fica lotada de turistas, se incentiva uma tendência aos chamados penteados afro como mera fantasia? Por que esse é um mês no qual todo mundo decide discutir em seminários, em palestras e arrisca aplicar receitas de bolo ao nosso cotidiano? Por que as tais secretarias ou mesmo coordenações especiais de políticas e promoção de igualdade racial não engatam?
Eu quero é que durante o ano inteiro alguém me explique, aliás faça melhor, quero que alguém solucione essa condição louca que é um trabalhador negro receber o equivalente a metade do salário de um trabalhador branco,ocupando exatamente a mesma função, com as mesmas qualificações. Quero que alguém explique por que nos noticiários de Tv as (raríssimas) apresentadoras não usam tranças ou dread locks? Seus cabelinhos são tão lisinhos alguns com luzes loiras! Me salve Rita Batista com seu estilo black power na Tv Aratu. Alguém pode me dizer que zorra de 1% é esse a que ganhamos o direito para aparecer nos anúncios e propagandas? No finalzinho da peça? Dando tchau? Sacudindo ou sempre mudos? Não quero pena, esmola. Sequer gosto da palavra reparação!
No meu caso específico não precisei diretamente da ajuda do governo. Nunca estudei em escola pública, minha graduação e especialização também foram em instituições particulares. Talvez aconteça agora com o mestrado. Sou a famosa exceção à regra. Entretanto, já bem próximo, minhas irmãs seguiram o que se vê: entraram num colégio público no segundo ano do segundo grau. Tinham as aulas iniciadas às 7h e antes das 10h já estavam em casa. Isso entristecia bastante minha mãe que nunca mediu esforços para nos proporcionar conhecimento. Era questão de honra na cabeça dela e, pelos incentivos, ainda se mantém.
E numa dessas palestras, ouvi uma vereadora, bastante requisitada no assunto, dizer lá pelas tantas que a escola pública hoje é feita para pobres. Em boa parte dessas instituições o descaso é pulsante e julga-se que o pobre não merece nada de qualidade, afinal, não vai sair dali mesmo. Não era a visão dela, mas explicitava como o sistema funcionava. Que engano! Somos tão capazes quanto afinal, somos nós que matamos um leão por dia pra sobreviver e ressaltar nossa habilidade... E tem sido assim desde o dia 14, (o dia do e agora) quando fomos empurrados às ruas. Ao menos paramos de comemorar o dia anterior, como se aquela assinatura fosse um favor!
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