sábado, 1 de dezembro de 2007

Melhor idade? De quem é esse conceito?

Sou do tempo em que qualquer assento era assento dentro do ônibus. Não era necessário um banco amarelo, vermelho ou estar escrito lugar reservado para quem quer que seja. Minha mãe sempre nos ensinou a ceder o lugar para pessoas mais velhas, gestantes e deficientes. Algumas passagens essa semana me fizeram pensar no raio de tratamento que estamos dando aos nossos velhos.

Na terça fui ver um lançamento de livro e filme no Teatro Vila Velha. O livro tratava da história dos grupos formados no Vila e o filme Esses moços. Há muito queria assistir. Demorei tanto que saiu de cartaz. A estória é sobre um velho confuso entre o que é passado e presente. Após fugir do abrigo, ele encontra duas menores. As meninas, irmãs que resolveram fugir de sua casa no interior da Bahia, fugir de sua mãe e decidiram morar nas ruas da capital. São muitas as temáticas trabalhadas no filme, mas por alguma razão me apeguei a esta: a maneira como as pessoas são vistas quando a velhice (e seus problemas) vai se aproximando.

E não precisamos de ficção. Diariamente os jornais noticiam os abusos que muitas vezes são cometidos pelos próprios parentes ou pessoas próximas: final de outubro os jornais locais na TV mostraram o assalto acontecido na casa de um senhor de mais de cem anos. Com dificuldade em ouvir, demorou em compreender as ordens dos marginais. Foi agredido e estava bastante machucado. Semana passada um outro senhor, de pouco mais de oitenta anos, apanhou de sua esposa, de vinte e poucos. E, segundo a delegada, essa não era a primeira ocorrência deles.

Ah, claro não podia faltar um episódio. A mãe de um dos meus tantos chefes sofreu um Acidente Vascular Cerebral (derrame) há umas três semanas. Ficou hospitalizada, recebeu alta e hoje se recupera bem com os paparicos de filhos, netos e amigos. Os cuidados passaram a ser bastante especiais e também por isso bastante caros. João (o chefe) descobriu que a pensão de sua mãe fora anulada. E (por favor, pasmem!!) nosso eficiente Instituto de Previdência avisou que só suspenderia a o cancelamento se ela fosse levada até a agência.

E como pode ser isso? Ela está se reabilitando. Uma saída dessas podia ser bastante comprometedora, desastrosa até! É inconcebível que eles não possuam agentes capacitados a visitação. Depois de muita indignação que fazer? Meu chefe foi obrigado a levar sua mãe a uma dessas agências para comprovar que estava viva.

Em que tempo alguém podia pensar numa delegacia especializada para idoso? É preciso haver demanda para se adotar tal passo. E, infelizmente, há. Não consigo entender essa violência, sobretudo dentro da própria casa. Sempre tive uma relação muito especial com meus velhos: tios, avós, amigos. Suas experiências são sempre referência.


Mais que a dor física, creio que a dor da humilhação seja mais difícil de cicatrizar, de lidar! Repensar esse tratamento, particularmente na atualidade em que a expectativa de vida vem aumentando, é válido. E vamos (re)educar melhor nossos meninos pra que possam compreender o que existe de tão especial quando aqueles famosos fios brancos começam a surgir nas cabeças alheias. Afinal, serão eles a cuidar dos adultos de hoje.

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