segunda-feira, 27 de julho de 2009

“Inocente, puro e besta” - Em Belo Horizonte

Voltamos a Sabará, onde estávamos hospedadas. Muito decepcionadas, sob vários aspectos e conscientes de que os senhores de engenho continuam aí tentando nos acorrentar, tentando impedir nossa visão, apagar nossos traços e memórias, tentando nos afastar. A mim pareceu uma pancada na cabeça. Já não era mais “inocente, puro e besta”, como diria Raul. Um despertar dolorido.

Desnudadas as intenções de ontem e (ainda) hoje, era hora de buscar outra fonte. Seguimos para Belo Horizonte. O centro da capital tem ruas largas e arborizadas. Tudo parece muito planejado. A verdade é que nada mais encantava na viagem. O receio de buscarmos, novamente, algo que desfizesse a má impressão (e o resultado fosse ainda mais desastroso), era latente.

Pensamos em visitar a Pampulha, mas resolvemos não ir mais a lugar algum e ficar por ali, numa daquelas ruas. Ainda reflexivas, tentamos salvar o que restou do passeio ouvindo um grupo de chorinho, de tons de pele e idade variada, a mistura que esperava ver, desde o começo, talvez. Assim, depois de tudo, curiosamente acabamos a tarde ouvindo Chiquinha Gonzaga, Gil, e Noite Ilustrada.

2 comentários:

Cí Demais disse...

acho que se eu tivesse ido também, a viagem seria pior ainda... pq eu tô tão revoltada com essa questão do racismo, segregação, falta de reparação, aliás de socialização do negro, das leis, do direito etc., que eu iria voltar na primeira experiência desagradável!!!
"seu povo", "nossa gente", "nossa igreja"... tudo tão delimitado e apropriado... a questão da propriedade... e dizendo: "-olha? vcs fizeram ou fizemos alguma coisa, para serem "usufruídas" por vcs!!! não quero ser pessimista, MAS NUNCA SEREMOS IGUAIS, NEM TRATADOS IGUALMENTE, mas não pense que fico triste não!!! pq isso é a prova de que tem "gente" no mundo!

Ednilson Martiniano disse...

Cintia, concordo com vc que realmente temos um problema grave na questão do racismo, mas sou mais ótimista, diria até realista, pois realmente nunca seremos iguais, mas graças a Deus todos estão ficando DIFERENTES, devagar, é verdade, mas estão, e levando o racismo junto de certa forma. De qualquer maneira minha cara sigo muito este pensamento de Machado de Assis (mulato nada, negrão) " Não prometo vencer, mas lutar; trabalharei com alma." M. Assis - Dom Casmurro.

Ed