Ainda lembro daquela bomba caindo bem no fim do meu dia. Estava no terceiro semestre do curso e estagiava na editora da própria faculdade. Minha irmã tinha passado muito mal pela manhã o que lhe custou não ir fazer a segunda prova do vestibular da Ufba. Quase seis horas e recebi uma ligação. Era minha irmã caçula: “você já está saindo?”. E eu: “sim. Iza melhorou?”. Ela, naquele tom irônico de sagitariano: “é... mas a enxaqueca dela só vai passar daqui uns meses...”. Eu, no meu tempo costumeiro: “como assim?”. Ela jogou: “sua irmã está grávida!”.
Hoje, relembrando a situação toda até rimos (sem mãe, lógico que continua não achando graça alguma, apesar de Gabriel tê-la no bolso). Foi um corre-corre. Morávamos no mesmo apertamento desde que éramos meninas. Nos habituamos mas, agora mulheres, mal cabíamos todas. O piso ainda coberto pelo velho carpete verde há mais de uma década, nada convidativo a um bebê. Mudamos para uma casa, afinal não tinha espaço para um berço e tudo mais que ele precisava. Era a primeira grande modificação concreta que Gabriel impunha.
Digo concreta porque nossas brigas e discussões foram ficando cada vez menos freqüentes. As desavenças sem sentido. Tínhamos em mente que uma figurinha ia precisar muito (e tão somente) de nós. E ele estava à caminho. Minha irmã trabalhou até muito próximo ao dia do parto. Até onde aquela barriga enorme permitiu. Toda a família era só paparicos, afinal as tantas mulheres da linhagem tinham resolvido estudar e trabalhar. O último rebento do ninho tinha nascido uns dez anos antes e era do meu tio.
Aliás o esforço de minha irmã-mãe era um espanto secundário. Sim porque a grande surpresa era a gravidez em si. Era a única de nós que jamais (e olha, eu disse jamais!) falou em ter filhos. Corria quando alguns daqueles meninos todos (que, nunca entendi, insistiam em ficar lá em casa) apareciam. Adorava as farras e pagodes de finais de semana... As voltas do mundo! Coisa estranha pode ser a vida algumas vezes. Eu tinha perdido um bebê cerca de três anos antes num aborto espontâneo.
Enfim, chegou o dia (ou melhor, a noite). Lembro de ter corrido a cidade por algumas horas procurando vaga nas maternidades com meu pai naquele final de setembro. Fui buscar no hospital com todo orgulho de tia. Aqueles exames imediatos me trouxeram o primeiro nó à garganta. Já fomos direto pra casa nova. Os dias que se seguiram eram marcados pelo revezamento. Até não trocou muito a tal noite pelo dia, mas para toda ameaçazinha de tosse, choro ou coisa que valha, tinha alguém de prontidão!
Fotos, fraldas, comida, presentes, visitas (e mais presentes!). A primeira grande queda aos seis meses. Aliás, por que diabos eles fazem isso? E só de cabeça? Que susto! (e, diga-se de passagem, que pulmão descobrimos com aquele choro agudo).TODAS EM PÂNICO, acordadas! E, principalmente, sem deixar ele dormir. A vó dizia que podia fazer mal. Crendice popular? Pode até ser, mas quem arrisca? A febre de 40. Chamamos ambulância. Aquela bendita médica aperta o coitadinho daqui e dali. Quase a gente voa naquela veiazinha visível do pescoço dela!
Eis que aí está. Com as famosas janelas (sem os dentes da frente).Cinco anos de muito trabalho, pânico e alerta, enfim, tudo que envolve o crescimento. Rimos das coisinhas do dia a dia. Suas descobertas, birras e manhas se tornaram recorrentes em meus trabalhos – textos, pesquisas e discussões – e bate-papos com amigos. Na verdade, todos (re)aprendemos muito e é tão gostoso vê-lo esticar e hoje olhar pra minha cara e dizer: “ei xará vai assistir pica-pau comigo? Se não, eu não sou mais seu amigo!”. Eu posso? Outro dia que deixou de falar o L no lugar do R!
Fico preocupada com o bolo de namoradas se formando na porta, o dia do braço quebrado ou pior a convocação do exército! O fato é que essa convivência tão próxima, essa espécie de treinamento vai me deixando preparada para algumas coisas. Uma delas seguramente é o momento em que a tia coruja cederá lugar para a mãe que, sem sombra de dúvidas, será igualmente babona, mas, por certo, mais atenta e menos impressionada.
Um comentário:
"Faça chuva ou sol...domingo é um dia lindo...Faça chuva ou sol...Amo meu domingo...". Claro q hj com o show do Lazzo e sua presença radiante, o domingo foi demais! Amei! Vamos tomar vergonha na cara e repetir né...Espero q pra vcs também tenha sido bom...E pelo amor de deus, me dê um alozinho mais tarde ou manda mensagem pra eu não ficar neurótico pensando em golpes de canivete. hehehhehe. brincadeirinha...beijos! ótima semana!
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