Nas proximidades de mais um vinte de novembro. É como se descobrissem que aqui estamos, pulsantes, vivos e ávidos. Bairristamente falando, temos ainda pouco a ser comemorado. Recebi um boletim especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese, no qual, asseguram os especialistas, que “a presença negra na População Economicamente Ativa – PEA em 2008 alcança 85,4% do total, cerca de 1,567 milhão de pessoas”. Mas, me desculpem os senhores pesquisadores, somos maioria. Era um resultado de se esperar, ou não?
Também, segundo a pesquisa intitulada de Os Negros no Mercado de Trabalho da Região Metropolitana de Salvador, embora sejamos esmagadora maioria, “a população negra ainda encontra dificuldades de inserção no mercado de trabalho, considerando a maior presença no contingente de desempregados. Além disso, para a parcela de negros que consegue uma ocupação, com freqüência ela se dá em setores e posições em que a ausência de proteção social é maior, os rendimentos são menores e as jornadas mais extensas. Situações que elevam a instabilidade e a precariedade desse grupo populacional no mercado de trabalho.”
Mas, ainda de acordo com o boletim, “entre 2004 e 2008, o aumento da participação de negros em setores mais estruturados, a melhoria nos níveis de rendimento e a diminuição do contingente na condição de desempregados contribuiu para uma ligeira melhora na composição da ocupação, fato reforçado pelo aumento da proporção da contratação formal, isto é, com carteira assinada, que amplia o acesso aos direitos trabalhistas e previdenciários. A repercussão desses fatos manifestou-se no crescimento do rendimento médio real dos negros (13,9%) numa proporção um pouco maior que dos não-negros (12,3%).”
Minha visão míope ainda não alcançou essas mudanças no cotidiano. Em contrapartida a essas “conquistas”, vergonhosamente o nosso 20 de novembro ainda não merece um feriado municipal. Daqui, da capital mais negra fora de áfrica, é uma lástima. Ainda ontem, tivemos protestos no centro da cidade e conseguimos um box – texto curto em caixa pequena – nos jornais. As palavras de ordem chamavam atenção para o racismo velado presente em muitos setores da sociedade baiana. No início da semana assistia uma entrevista da juíza baiana Luislinda Valois, primeira juíza negra brasileira, que dizia da dificuldade em ser negra na Bahia e do apoio que encontrou – e ainda encontra – em Curitiba. Seu livro, editado este ano, foi publicado com a ajuda de pessoas comuns e políticos daquela cidade. Um contrasenso.
Esses dias minha irmã, que eu julgava ser completamente desantenada politicamente, me questionou das campanhas que surgem essa época do ano, o chamado novembro negro. “Um dia só, que diferença isso faz? E nos outros 364?”. Confesso que fui tomada por sentimentos misturados: primeiro fiquei feliz ao pensar que essa poderia ser uma constatação comum a muito mais pessoas. Depois veio o desapontamento porque não tinha argumentos para apresentar a ela. O que diria eu? Convenceria ela ao dizer que nossos passos são sempre mais largos? Projetos e políticas públicas para a comunidade negra estão sempre em pauta, e sempre a espera de votação?
Não é que eu veja só o lado ruim ou que não anda. "Catando" bastante dá para pontuar umas coisas bacanas também. Algumas são perceptíveis como o efeito Taís Araújo e Camila Pitanga. Protagonistas nas novelas globais de 20h e 18h, respectivamente, as cabeleiras cacheadas das musas andam fazendo sucesso e cabeças nos mais badalados coiffers da cidade. Percebo ainda a ascensão de personagens negros no folhetim das 19h, enfim.
Também me sinto feliz em olhar minha turma da especialização. Somos quase 30. Diferente do que aconteceu há cinco anos, lá na graduação – onde éramos 45 em sala, e havia 5 negros, num curso particular –, posso dizer que é um grupo bem dividido. Com a cara e as cores da população brasileira.
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