sábado, 29 de setembro de 2007

Chocolates, amendoim, jujuba e esperança

Essa é pra quem anda de ônibus. Esses tempos de alta do desemprego nos testam a paciência de todos os ângulos. Além de nos qualificarmos e precisarmos ser tolerantes com um mercado que não nos absorve, precisamos ainda ser compreensivos com quem, muitas vezes, não teve a chance de estudar e vende quase tudo em transportes coletivos.

Mas quando digo tudo, não tô exagerando: é chocolate em barras, água, batata frita, balas de chocolate, amendoim com casca (e sem), chicletes sem açúcar, jujuba, paçoca, picolé, pé-de-moleque. Êita. O detalhe é que tudo é delicioso. O merchandising é sempre o mesmo: “Boa tarde senhoras e senhores, desculpem incomodar o silêncio da sua viagem, mas cheguei aqui com as deliciosas balas de chocolate...” e, por aí vai, adequando ao produto. Desce um, entra outro. Menino, velho, mulher, homem.

Outros vendem canivetes, tesourinha japonesa, lapiseira, caneta perfumada com brilho e sem. Mil e uma quinquilharias. Estes estão espalhados quase sempre pela manhã. Produtos de utilidade. Sabe como é, na ida pra entrevista não pode ficar sem caneta. Ou, caso tenha esquecido de aparar as unhas, esses são utensílios importantes pra quem, mais uma vez, vai bater de porta em porta.

Motivações políticas à parte, o caso é que os veículos de comunicação não poupam notícias a respeito do desemprego em Salvador. Não acho que sejam necessários dados estatísticos e não sei das outras capitais, mas é um problema visto a olhos nus.

Creio que nada deva ser pior que perder a dignidade a ponto de pedir ajuda a estranhos. Essa pode ser uma escolha bastante difícil no começo. Imagina? Entrar num ônibus se sujeitar a passageiros com todo tipo de problema a bordo? Uns mais, outros menos.

Uma coisa, entretanto, não se pode contestar: são pessoas que crêem numa melhoria de vida. O pensamento é: “Se ainda não está bom, ao menos tenho duas pernas, dois olhos e dois braços. Não posso é ficar parado.”. Assim me disse uma vez um desses anônimos. A maioria tem mais de dois filhos e por eles se validam quaisquer esforços.

O grande lance é aprender com eles: Ter esperança e batalhar. Tá complicado aí fora, ninguém disse que tava fácil. Mas o velho jeitinho – honesto, é bom enfatizar -, o jogo de cintura que bem conhecemos será sempre nosso aliado. Pensando em meu breve amigo vendedor e tomando o slogan de uma campanha federal: “eu sou brasileiro e não desisto nunca!”


Imagem: Banco de imagens SXC

Um comentário:

Anônimo disse...

Não li este texto, mas a chei a foto linda. Aos poucos lerei todos. Comecei a ler o que tá logo no topo e posso dizer que a esperança é a última que morre!