Muita música alta, muita gente, o calor humano do empurra-empurra, turistada desavisada, ônibus e pontos de táxi apinhados e quando cai a chuva então? Eu adoro o carnaval. Ainda mais quando estou longe de tudo isso, abrigada na tranqüilidade do lar. Meu ou de outra pessoa, na praia, por exemplo. Vez em quando dou uma espiadinha pela TV pra ver o que estou perdendo, mas em todos esses anos, sabe que ainda não consegui encontrar?!
Não é que nunca tenha saído. É justamente por causa disso. Já fui. Em bloco e de pipoca. No mesmo ano, só pra ter certeza que podia estar fazendo coisas mais produtivas nesse período. E realmente faço. Ainda que use minha semana de ócio de maneira pouco criativa: fazendo absolutamente nada e com as pernas para cima.
Mas é sério. Adoro o carnaval! Que outro período do ano é tão tranqüilo, revitalizador e, sobretudo, prolongado pra curtir pilhas de livros e revistas, DVDs, cds? E eu que botei minhas mãos na cabeça quando sai do jornal pensando no que ia fazer. Imagina que tortura se eu tivesse cobrindo esses dias? Aliás, taí uma coisa que ninguém pensa: o quanto esse período pode ser torturante para alguns simples mortais. Que nem são tão poucos assim.
Na quinta-feira sai pra resolver alguma coisa no centro da cidade. Levei quase 3 horas pra fazer um percurso que normalmente é feito em 1 e meia. Já pensou o que é isso? O desgaste, o nervoso? Bate tapume daqui, descarrega cerveja pra lá, monta arquibancada acolá. E as pessoas que tiveram a (in)feliz idéia de morar no centro da cidade ou na orla – na altura da Barra e Ondina –, na tentativa de otimizar o tempo ou buscando qualidade de vida e não curtem a festa? Gente como minha tia que mora há mais de vinte anos num prédio próximo ao circuito da praia e se vê praticamente sitiada ano após ano.
A cada carnaval a festa vai perdendo seu caráter popular e virando produto turístico vendido da pior e mais baixa maneira possível. Não é a festa ou a tradição da folia que se vende e sim a “acabação”, o oba oba generalizado, o ninguém é de ninguém. A cada ano se exibe uma moeda de acabação diferente: seja uma música, uma roupa, um personagem. Se elege a nova revelação que, normalmente, não dura até o próximo ano. Para 2009 a senha da acabação parece ser o “beijo na boca”. Os “meus colegas” gostam, se divertem. Daqui uns meses ou mesmo nas próximas horas tudo isso vira base para matérias sobre aumento de doenças, gravidez indesejadas, essas coisas que alimentam o jornalismo diário e conservam seus postos de trabalho.
Algumas emissoras, num trabalho de resgate, tentam mostrar as antigas marchinhas, as canções compostas ou interpretadas por Dodô, Osmar, Novos Baianos, Caetano, Gil. O encanto dos blocos de samba ou música afro, de raiz. A tentativa é válida, mas o despreparo dos entrevistados – e algumas vezes dos entrevistadores – acaba concretizando o famoso “tiro no pé”.
O certo é que já estou com saudades. Resta agora esperar pela páscoa enquanto a cidade volta, a passos bem largos, a retomar a rotina. Alias, é só agora, depois de carnaval, que as coisas começam acontecer aqui na cidade da Bahia.
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