A cada vez que vou até a sede do Movimento volto carregada de sensações opostas. Curiosamente elas têm o mesmo peso. Pensamentos tipo: “caramba, aqui tem muito a ser feito. Minha vidinha de classe média tava tão boa e isso não é problema meu. Tô distante dessas coisas”. No outro pêndulo, porém: “caramba, aqui tem muito a ser feito. Minha vidinha de classe média tava tão boa... caramba, aqui tem muito a ser feito. Minha vidinha de classe média tava tão boa... CARAMBA!”. Dessa vez um fato literalmente acabou meu dia. Uma garota de onze anos foi estuprada e morta pelo padrasto. Amanhã haverá uma passeata. O assassino, sob declaradas ameaças de morte, está foragido.
Infelizmente esse não é um fato isolado, sobretudo aqui pelo subúrbio, onde as pessoas têm acesso precário à justiça e segurança. E é essa lacuna que dá espaço a criação de meios muito próprios de combate ou represália. Nesse caso específico, segundo relatos, invadiram a casa do acusado, quebraram tudo, levaram aparelhos eletro-eletrônicos. Na conversa informal dentro do ônibus, era impossível não perceber a torcida: “se ele cai na detenção, ele vai ver só. A lei da cadeia é certa e não perdoa.”
Não vou ser hipócrita a ponto de dizer que torço que a polícia o prenda simplesmente. Ao que consta era dele a figura paterna que a menina conhecia. Na minha cabeça, isso agrava o crime! De mais a mais, de qualquer sorte (ou falta dela), ele já foi julgado e condenado pelo mais passional dos júris!
Penso em como essas ocorrências estão ficando comuns. Penso também como algumas pessoas vão achando esses, fatos comuns! Reação, aliás, muito preocupante. Assim vai sendo sacramentada a banalização da falta de humanidade.
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